Uma das mais antigas e influentes denominações evangélicas do mundo, a Igreja Episcopal Anglicana, anunciou uma mudança que terá sérias consequências teológicas nos próximos anos. Apoiados pelo seu líder máximo, o Arcebispo de Canterbury Justin Welby, a Igreja iniciou uma mudança nas cerimônias de batismo que exclui a menção ao pecado e ao diabo.
Com cerca de 150.000 batismos por ano só na Inglaterra, as mudanças devem ser brevemente apoiadas pelo Sínodo Geral. A justificativa é que as pessoas que participam das cerimônias precisavam de uma linguagem mais moderna, que pudessem compreender.
A cerimônia de batismo entre os anglicanos ocorre quando a criança é levada pelos pais até o pastor. Através de uma leitura responsiva, os presentes dão declarações de sua fé, com destaque para os pais da criança.
Essas novas perguntas e respostas incomodou muitos dos líderes e teólogos da Igreja, que acusam a liderança atual de quebrar não só uma tradição secular, mas também os ensinamentos da Bíblia. Na prática, é como se a Igreja estivesse decretando o “fim do pecado” e a aposentadoria do diabo.
Segundo o jornal Daily Mail deste domingo, vários bispos se manifestaram contrários. Um membro sênior do Sínodo Geral, que não quis ser identificado, disparou: “O problema é que grande parte da Igreja da Inglaterra não acreditam mais no inferno, no pecado ou no arrependimento. Eles acham que podemos simplesmente nos dar as mãos e sorrir… vamos todos para o céu. Isso certamente não é o que Jesus pensava. Se você excluir o pecado original e arrependimento sobra muito pouco da mensagem original [do batismo]”.
A principal reclamação é que tanto o pecado quanto o diabo foram substituídos pelo termo “mal”. Alison Ruoff, membro do Sínodo Geral de Londres, disse que a nova versão é “fraca, confusa e sem convicção… Ao remover qualquer menção ao diabo e à rebelião contra Deus, somos deixados à nossa própria compreensão vaga do que o conceito de ‘mal’ pode ou não significar”.
O projeto de mudança elaborado pela Comissão Liturgia da Igreja usa como justificativa o fato de que a maioria dos anglicanos hoje em dia só vai à igreja para batizados, casamentos ou funerais.
O bispo Stephen Platten, que preside a Comissão, justifica que o arrependimento está implícito em frases que incitam as pessoas a “se afastar do mal”, e defendeu a omissão do diabo, dizendo que era “teologicamente problemática”. Finalizou dizendo “estamos apenas preocupados de que as pessoas que estão vindo para o batismo entendam o que está sendo dito”.
A polêmica não é nova, existem há pelo menos dois anos movimentos que propõe uma linguagem “menos bíblica e mais realista”. A oração tradicional, descrita no Livro de Oração Comum, sofreu poucas alterações desde que foi instituída, há cerca de 400 anos. A cerimônia de batismo permaneceu inalterada até que foi revista em 1980. Esta é a terceira revisão em 30 anos.
Segundo o bispo Michael Nazir-Ali “Desde a década de 1970 surgiu uma moda na Igreja da Inglaterra que visa minimizar a profundidade e o mistério da adoração por causa da alegada necessidade de tornar os cultos mais ‘acessíveis’. A Igreja de Cristo sempre considerou o arrependimento algo necessário para o início da vida cristã… Por causa de sua vontade que todos sintam-se bem-vindos e seu desejo de não ofender ninguém, o novo batismo quase totalmente acaba com o pecado e com a necessidade de arrependimento”.